sexta-feira, 2 de julho de 2010

O adeus da Copa

Olá, pessoas esquecidas desse meu Brasil varonil!

Estava eu dividindo meu tempo entre uma monografia que me arrancou sangue e a Copa do Mundo, e agora que eu finalmente entreguei meu trabalho para a primeira vista do orientador (medo!) e o Brasil foi eliminado do Mundial pela seleção dos drugues vikings - sacou a piada? - eu voltei.

Retornei, e com o coração partido, porque nunca acompanhei uma Copa como essa. Deixava guardadinha na minha mesa uma tabelinha dos jogos, e a preenchia conforme a Copa avançava, contava os pontos na primeira fase para ver as chances das minhas seleções do coração (Brasil e Inglaterra, of course, e os Bafana Bafana, de quem eu era fã desde criancinha - mentira), acompanhava os jogos pela TV ou pela internet e até cheguei a ouvir a narração por rádio, gente, olha isso! Aliás, narração de jogo por rádio é a coisa mais divertida ever, eu devia tentar mais. Aqueles comentaristas são todos doidos e bizarros.

Que triste ver o Brasil não jogando com todo seu potencial. Tirando o jogo com o Chile - que não era um adversário difícil, convenhamos - o Brasil não mostrou o futebol que pode ter. Kaká, apesar de tudo que disseram, não está recuperado e bem para jogar uma Copa do Mundo, e mesmo que estivesse, os holofotes jogados nele acabaram atrapalhando seu futebol - os holandeses hoje mal deixavam o garoto se mexer. É claro que a grande estrela seria marcada como se quatro muros de pedra fossem construídos em volta dele. Não sei se a culpa é de Dunga, se é de Felipe Melo e sua expulsão (duvido que seja), o fato é que jogamos um bom primeiro tempo e um péssimo segundo e merecemos sim ser eliminados. Justo nessa Copa, que eu torci tanto!

Chora não, Julio. Você, pelo menos, fez o seu papel.


Acho que minha eterna identificação com os fracos, oprimidos e marginalizados - é assim que minha mãe vê minha personalidade, pelo menos - fez esse Mundial me emocionar. Juro que chegou a sair lágrimas dos meus olhos vendo o vídeo oficial da música da Shakira*, porque é simplesmente tão bonito ver um país que virtualmente nem existia 30 anos atrás conduzir uma Copa do Mundo, ver aquelas imagens do Nelson Mandela saindo da prisão combinadas com o povo sul-africano e suas dancinhas coreografadas e porra, eles estão curtindo muito isso. Depois de anos sofrendo e lutando para sentir que pertenciam ao seu próprio país, eles agora podem se apresentar como anfitriões de uma festa. Podem me chamar de ingênua, eu sei que tem muita politicagem e interesses por trás da existência da Copa, mas que isso é uma coisa muito boa de se ver, é sim.

O que não é uma coisa muito boa de se ver é a necessidade de existir uma campanha contra o racismo dentro da Copa do Mundo, principalmente uma acontecendo em um país africano onde, até poucos anos atrás, brancos e negros viviam divididos por conta de um regime político ridículo, para dizer o mínimo. Aquele texto decorado que Lúcio e o capitão da Holanda repetiram em suas respectivas línguas não deveria ter razão de ser, não deveríamos ter de pedir para que as pessoas que foram assistir a uma competição em solo sul-africano de um esporte em que um grande número de seus praticantes são afro-descendentes digam NÃO ao racismo. É algo implícito, oras. É uma iniciativa válida, mas eu julgo uma imbecilidade que isso ainda aconteça nos gramados pelo mundo afora. Aliás, é uma imbecilidade que o racismo ainda exista em qualquer lugar desse planeta.

E imbecilidade por imbecilidade, parece que a ocorrência da Copa do Mundo dá a todo mundo carta branca para ser machista. Marketeiros, produtores de TV e o dono do bar da esquina, todos vestem a camisa verde-amarela, sopram suas vuvuzelas e aproveitam pra lembrar que mulher é um bicho burro que não entende nada de futebol.

Primeiro, vieram as campanhas do "o que você vai fazer enquanto seu namorado/marido/ficante/pai/irmão/figura masculina de sua vida fica assistindo os jogos de futebol"? É claro que as opções são inúmeras, como fazer compras, sair pra balada, passear com as amigas, e... fazer compras. Claro. Não passa nem pela cabeça a opção de, sei lá, hmmm, acompanhar o supracitado ente querido masculino assistindo os jogos? Que isso. Que mulher loooouca faria uma coisa dessas?

Daí, quando a coisa foi ficando escancarada demais e o 1% que homens/mulheres-acéfalos aprenderam com o movimento feminista veio à tona, eles decidiram que o lance era incluir a população feminina na Copa. Sim, porque mulher também gosta de futebol! Como por exemplo... das pernas dos jogadores! Daí vieram as enquetes em sites do tipo "qual é o jogador mais gato da Copa do Mundo?", ou seus equivalentes em homofobia, como colocar os maquiadores e cabeleireiros da SPFW comentando o look do Cristiano Ronaldo e do Kaká - porque homens gays e mulheres hetero só entendem alguma coisa se o approach for encaixar o assunto na seção "moda e estilo".

A grande tristeza é que muitas mulheres caem nessa - assim como caem em todas as outras armadilhas do machismo velado. No meio do grupo de pessoas do trabalho com quem fui assistir aos jogos da tarde havia muitas meninas que se resumiam a gritar "lindo!" e "gato!" quando Kaká passava pela câmera. Ouvi uma mulher no ônibus dizendo que jogo da Copa era bom porque "ela saía do serviço e tinha tempo de lavar e passar roupa enquanto o marido ficava na TV". E até algumas amigas minhas, de brincadeira, constataram que eu era um "menininho" quando a Pê comentou que eu estava ligada no que estava acontecendo no Mundial.

Volto à discussão anterior do racismo. É chocante que ainda exista a necessidade de se estender uma faixa escrito "diga NÃO ao racismo" no meio de uma cerimônia antes do início de um jogo de futebol, assim como é chocante que as pessoas fiquem quietas assistindo à TV dizendo que uma mulher tem que arrumar o que fazer enquanto seu macho se preocupa com a Copa do Mundo e que os fashionistas da SPFW só querem saber dos mullets de Messi.

Racismo. Machismo. Homofobia. É chocante mesmo.


As fotos acima são só pra ilustrar que mulher entende muito de futebol, de jogar futebol, de comemorar um gol, de matar a bola no peito e de ser o tema das conversas desse blog.



E que venha a Copa de 2014, agora. Sem a necessidade de faixas e discursos combinados contra o racismo e com um futebol menos técnico e mais artístico, de preferência.


*Ok, ok, confesso que ver a Shakira linda dançando de maneira sexy no clipe também trouxe lágrimas aos meus olhos... eita menina bonita!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Uspianos de farmácia e a homofobia

Acabo de ler, no G1 que um jornal dos estudantes de farmácia da USP pediram para que seus "compatriotas" jogassem merda em gays a fim de "vingar" a reputação da faculdade e, de quebra, ganhar um convite para uma festa brega.

A notícia me incomoda porque bate bem perto de casa; afinal, eu fui estudante de universidade pública, dessas de ir em festas bregas e tal, e ainda por cima da parte de comunicação e artes, onde como a música-tema do instituto já dizia, todo mundo é "bichinha e sapata".

Primeiro de tudo, me espanta a completa contramão em que esse jornaleco está inserido. Sim, porque a Universidade é - ou foi, ou deveria ser - um centro de discussões e ideias, de onde deveriam sair as pessoas que questionam e abolem preconceitos e o arcaísmo. O local acadêmico deveria ser a primeira frente a combater a homofobia, a abraçar as diferenças, a contribuir para a integração. Afinal, é o papel da universidade fazer as pessoas pensarem, pesquisarem e, consequentemente, mudarem paradigmas. Seja a teoria da relatividade ou a percepção que a sociedade tem dos homo/bi/transexuais.

(E o que eu esperaria de uma festa de universidade - principalmente sabendo que gays e lésbicas são tão presentes nessa esfera - seria, no mínimo, de deixar a coisa rolar, deixar o povo à vontade. Mesmo porque, com tanta bagunça, putaria e coisas ilegais que rolam nessas festas, né, quem são eles pra se ofenderem com dois caras se beijando? )

Em segundo lugar, me espanta como no meio acadêmico de hoje, as pessoas apenas se mobilizam para o fútil, o execrável e o estúpido. Lembro-me de quando estudava e o campus todo era convocado para assembleias estudantis para discutir o repasse de verba para as universidades públicas. Estamos falando de milhares de alunos aqui: apenas 30, 40 apareciam. Contudo, um dia, apareceu um flyer na frente do restaurante estudantil, e vimos esse flyer distribuído pela universidade inteira. O conteúdo: um convite de uma "facção" racista para reuniões para discutir o problema de negros e nordestinos no campus. Ah, sim, para isso eles tinham tempo e dinheiro para confeccionar e imprimir flyers. Assim como esses cretinos da USP tem tempo para imprimir um jornal convidando os colegas a jogarem merda nos gays (e, pelo que vi da foto do G1, falar sobre a Adriana Bombom também.) E isso vindo de pessoas que, futuramente, irão trabalhar em laboratórios que farão os SEUS remédios e os remédios de seus familiares. Sim, esses completos imbecis estão trabalhando na área da saúde, minha gente. Feliz 2012.

Lembro-me agora como o pessoal do diretório acadêmico se preocupava com o sucateamento e a privatização do ensino público brasileiro. É por isso que nunca fui de tomar parte com esse tipo de discussão. Eu me preocupo mais é com a imbecilização e estupiditização da academia brasileira.

Alguém, faça alguma coisa? Please?

E um último adendo: o brilhante autor do jornal me escreve, ainda por cima, "lanÇe-merdas". Corram para as colinas.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

"O que é sexismo?" - aula número 01

Longe de mim querer ser Betty Friedan ou Gertrude Stein ou Simone de Beauvoir ou Kathleen Hannah (Hey giiiiirlfrieeeeend!), mas é sempre bom fazer um exercício, olhando em nossa volta, e pensar: "puxa, será que isso é machista?". É uma forma de treinar nosso cérebro para as tentações do pseudo-feminismo (oi, Carrie Bradshaw, estou olhando pra você, queridinha), estudar mais esse assunto que tanto nos é interessante ou simplesmente chacoalhar a cabeça e pensar que, com tanta gente idiota no mundo, o fim está próximo mesmo. 2012 está aí, fellas.

Por isso, decidi inaugurar essa seção no McP em que eu, humildemente, tento explicar algumas coisas que eu vejo por aí à luz do meu próprio discernimento. Ou, como diria o internetês americano, um "facepalm" - aquela palmada na testa que antecede o "dããããr".

Bem, pra começar a aula de sexismo, digam-me o que está errado nisso aqui:

Um mês sem homem.com.br

Nós temos a presença ilustre de duas humoristas globais pra dar mais credibilidade ao projeto, afinal, são duas mulheres bonitas, bem humoradas, bem sucedidas, famosas e bem vestidas convidando você a dizer "ei, amiiiiga, o que você vai fazer nesse um mês que seu namorado/marido/ficante/amado/amante/stalker vai ficar prestando atenção só na Copa do Mundo e não em você, heeeeein?"

Daí, as mocinhas devolvem com propostas de "saia por aí gastando o dinheiro dele fazendo compras" ou "saia com as amigas e aproveitem a noite na buatchy!" e até tem aquelas que não veem esse momento com uma visão tão otimista e positiva e recomendam: "amigá, não se engane! seu homem não vai estar pensando só em futebol! segure-o antes que uma vagabunda com uma camisa canarinho o roube de você!"

É um site lindo, cheio de mulheres com força de vontade, certas de si, bonitas, algo que Bridget Jones e as garotas de Sex and the City amariam fazer parte!

Mas precisamos ir mais a fundo. Analisar melhor a situação. Para essa primeira aula, faremos algumas perguntas básicas:

1-) Por que é que apenas "eles" vão aproveitar o mês de julho para assistir jogos intermináveis de futebol? Será que não há, por aí, uma só mulher que na verdade gosta do esporte futebol (sim, não valendo aquela de "gosto de ver as pernas dos jogadores") e vai assistir aos jogos por sua livre e espontânea vontade?

2-) Por outro lado, será que não existe um só homem que não dá a mínima pra futebol e vá preferir passar o mês de julho fazendo qualquer outra coisa em vez de ficar sentado à frente da TV com uma cerveja na mão gritando "Dunga filho da puta!"?

3-) Resumindo, será que o binômio "todo homem gosta de futebol - toda mulher odeia futebol" é verdadeiro?

4-) Em seguida, o depoimento das mulheres do site levam à "pequena" impressão de que fazer compras, sair com as amigas, ou fazer seja lá que elas propõem no site acontecerá apenas porque os "seus homens" não vão estar por perto. Isso me permite perguntar, elas se sentem proibidas de fazer essas coisas quando os homens estão por perto? Se elas não o fazem, o QUE elas fazem quando eles estão por perto? O que ELES querem?

5-) Essa procura por uma alternativa ao que fazer quando os homens estiverem ocupados com o futebol não se compara, assim, de leve, a crianças que são largadas no playground do prédio enquanto os adultos estão fazendo coisas importantes? Estariam essas mulheres se infantilizando e diminuindo o que elas fazem em comparação ao que é verdadeiramente importante, ou seja, o que os homens vão fazer?

Essas 5 perguntinhas básicas já serviriam para que eu classificasse a proposta do site como sexista - se não idiota e imbecil - de acordo com meus padrões. Agora, vocês façam esse exercício e respondam a si mesmas. O que acham?

Até a próxima aula, beibes!

sábado, 3 de abril de 2010

Superando o acontecido / Twitter Outing

Eu passei a semana inteira formulando um post comentando a recente história do "povão" brasileiro e o prêmio que ele deu a um machista homofóbico nazi.

Passei um tempão sentindo ódio, ódio, puro ódio do que aconteceu. (Não que eu acredite que Dourado foi votado - sabemos que reality show não existe e tudo lá dentro é manipulado e minimamente calculado - mas o nosso país é de burros e ignorantes e caímos feito um patinho.)

Ódio, não porque Dourado ganhou (afinal, que diferença faz em minha vida ele ter um milhão e meio de reais a mais que eu?), mas porque funcionou como um censo das opiniões de nossos conterrâneos. Com quem você se identifica?

Com o pitiboy, disseram os brasileiros. Não só porque ele é homofóbico, não só porque ele é machista, não só porque ele é preconceituoso, mas porque ele também representa todos aqueles lugares-comuns que brasileiro acha que é caráter: "sua inveja faz o meu sucesso", "eu resolvo tudo na porrada", "eu não levo desaforo pra casa".

Perdeu a tolerância, perdeu a diversidade, mas também perderam a decência, a compreensão, a paciência, o deixar-pra-lá, o dar-a-outra-face, o respeito.

Mas quer saber? Pitiboys, preconceituosos, ignorantes, tem aos montes aí pelo mundo.

Cabe a nós não nos tornarmos um. Cabe a nós fazer um pouco, nem que for pra mudar só a cabeça do seu melhor amigo da faculdade. A gente não vai convencer 200 milhões a pensar igual, mas um só já é bom demais.

Não vou mais ficar pensando no quanto é triste que esse cara tenha ganho. Vou me prender à esperança de que tem um pouquinho de gente por aí que concorda comigo.

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Dica de um programinha pra curar aquela ressaca puta-merda-o-Brasil-me-envergonha: show do Dominatrix (aquela banda que toda feminista brasileira tem que conhecer haha) esse sábado, 20h, no Espaço Soma, que fica na Rua Fidalga, 98, na Vila Madalena, em São Paulo.
Pê ameaçou terminar comigo se não fôssemos ver essas meninas, então se vocês virem duas ruivas lindíssimas por lá, cheguem abraçando que é nóis!

E fazendo meu outing aqui, vou linkar o McP à minha vida real. Quem quiser me conhecer/ler bobagens em apenas 140 caracteres/me espionar, me sigam no Twitter:

http://twitter.com/camyskaze


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Juro que não ganhei nada por esse jabá. É que sou fã mesmo, néam?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Autostraddle mostra como se faz uma formatura

Qualquer pessoa que já assistiu a algum filme de escola na sessão da tarde ou algum seriado de adolescentes americanos sabe a importância que os States dão à festa de formatura, lá chamada pelo fofo apelido de "prom".

Enquanto por aqui a festa de formatura é opcional (o quê? eu não tive na formatura do colegial), paga pelos pais dos alunos, feita para a família e cheia de formalidades chatas e que normalmente culmina em um monte de adolescentes dançando em volta da tia bêbada de alguém (o quê? essa foi minha festa de formatura da faculdade...), nos EUA a coisa pega pra valer.

Lá, é praticamente um evento obrigatório em todas as escolas, onde apenas os alunos (e certos membros da escola) comparecem, obrigatoriamente acompanhados de um par, e em meio a esses pares, são escolhidos o rei e a rainha, que são necessariamente os alunos mais populares. Competitivos como são, para os americanos ter um par decente para o baile e se sobressair para ganhar a coroa de rei e rainha (e conseguir transar com alguém no final da festa) é questão de vida ou morte, enquanto para outros dar um pé na prom significa ser alternativo e subersivo.

Tudo isso pra dizer que, sim, os americanos levam a prom muito a sério, a ponto de uma escola no Mississipi cancelar toda a festa depois de uma garota bater o pé que queria ir no baile levando sua namorada junta e, quanta ousadia!, vestir um terno em vez de vestido. Tipo alguém querer comer macarrão junto com arroz e feijão. Profunda heresia.

Pra ajudar a causa de Constance - a herege - de uma forma bem humorada, o site Autostraddle convidou suas leitoras a mandar fotos de quando elas foram a festas de formatura ou qualquer tipo de evento de gala com suas namoradas/ficantes/pares do mesmo sexo. O resultado é uma galeria de fotos fofíssima e muito sexy. O quê? Eu adoro meninas de social!

I kissed a girl e eu gostei tanto que resolvi chamar ela pro meu baile de formatura

A iniciativa do site me deixou bem emocionada. Quando me formei na faculdade, eu e a Pê ainda estávamos nos conhecendo (leia-se, ainda estávamos no primeiro encontro) e eu não a levei, e acabei dançando valsa com meu pai e meu primo-irmão. Tempos depois, foi a vez dela se formar e os pais dela armaram um papelão e, resumindo, proibiram que ela me levasse à festa sob pena de armar um papelão ainda maior na frente de toda a Universidade. Pessoas legais.

Acabamos então não tendo a experiência que essas meninas tiveram. Experiência que talvez Constance continue proibida de ter também. E a verdadeira questão disso é que, para as outras pessoas, o lance de ir no baile de formatura é algo suave, gostoso, divertido. Mas pra nós, é suado, complicado e problemático, assim como vários outros aspectos de nossa vida. Constance vestida de terno de mãos dadas com uma garota não atrapalha nem mancha de maneira alguma a formatura de sua escola e de seus colegas, então porque ela deveria ser privada de ter seus desejos satisfeitos, assim como os outros alunos, que puderam escolher com quem vão ao evento e vestindo o quê?

As pequenas coisas só nos parecem importante quando somos privadas dela. Que o Autostraddle consiga o que almeja com essa campanha e que Constance vá linda e fofa de bofinho com sua namorada ao baile.

E que a gente possa, cada vez mais, tornar direito essas liberdades que são apenas privilégios para as pessoas "normais", e são negadas a nós. Afinal, só será direito quando for pra todo mundo, sem distinção.

Eu achei a informação sobre o Autostraddle lá no LeBiscoito.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Molecas, Shiloh Jolie-Pitt e tablóides ridículos

Estava eu sentada confortavelmente em minha redoma de vidro (NOT!) pensando em qual seria o próximo post do McP e estudando feito doida para alguns cursos e concursos que faço/irei prestar quando vi essa notícia gritante pulando feito pop-up na tela do meu computador:

Primeiro de tudo, essas são as fotos comprovando o fato:



Em vez do cabelinho comprido, Shiloh está usando um corte meio Lady Di meets Ellen DeGeneres. E em vez da bolsa e do casaco cinturado, Shiloh está usando calças e um suéter. Na matéria, a revista ainda diz que Brad confidenciou que Shiloh gosta de ser chamada de "John", porque ela é fã de Peter Pan. (Ainda que na capa, eles dizem que a Angelina é que chama a Shiloh de John, fazendo parecer que Angie faz isso deliberadamente, que é ideia dela.)

A revista chamou um bando de *cofcof* experts para dizerem que a menina parece mesmo um moleque (um deles ainda diz que Shiloh é uma cross-dresser, tipos, q?) e que Angelina deveria ensinar a filha sobre o que é ser mulher, porque isso seria o saudável. Hmm. Apenas um dos experts, uma tal de "treinadora de pais", diz que é legal e interessante Angie deixar a garota experimentar com as coisas do jeito que quiser.

Nos sites que eu visitei sobre o assunto - eu sou viciada em, quando leio uma notícia, ler comentários sobre o que o povo acha dela - e muitas pessoas estão do lado da Angie, porque, oi? É só uma criança com o cabelo curto (quem nunca teve o cabelo cortado quando criança porque não gostava de pentear ou tal?), com roupas de moleque e que tem manias de criança. Uma das leitoras que comentaram em blog disse que, quando menina, ela insistiu em ser chamada de Fred por uns três dias, depois Dorothy e depois Branca de Neve, tudo por causa de livros que a mãe lia pra ela.


Mas eu acho que o buraco é mais embaixo, ui. Tablóides sempre buscam colocar Angelina como uma mãe ruim. Por quê? Porque Angelina é uma mulher fora dos padrões. Angelina assumiu ser bissexual, teve relacionamentos com mulheres, casou com um cara mais velho, fez uma tatuagem com o nome dele, se envolveu com vários atores durante as filmagens de seus filmes e acabou "roubando" Brad de Jennifer Anniston. Agora, uma pessoa com esse histórico não pode ser uma boa mãe, não é verdade?

Uma mãe como Angelina teria de passar seus princípios errôneos e sua imoralidade pros coitados dos seus trinta filhos, adotivos e biológicos. É como se nas entrelinhas fosse dito que Shiloh não está apenas sendo moleca, ela está sendo treinada pela sua mãe pra ser uma pessoa sem moral, desafiadora, polêmica ou, quem sabe, uma futura butch (cruz-credo!).

Bem. Se o comportamento de Shiloh é uma indicação de sua sexualidade desde cedo (acredito que sexualidade, e todas suas arestas, é inata, vem de berço), não sabemos dizer. Pode ser que Shiloh apenas não queira ser uma menininha de comercial de boneca. Talvez seja apenas um gosto de criança, de querer se vestir como moleque, de brincar feito moleque, isso é tão comum, tão normal...

O que me interessa, o que acho brilhante é a posição de Angelina e Brad - sim, porque não é só a mãe que cria, não é mesmo? Me parece que os dois colocaram de lado as convenções sociais e o que "as outras pessoas irão dizer" pra simplesmente deixarem Shiloh ser o que quiser e fazer o que quiser. Ela ainda é pequena demais pra entender as implicações que levam se vestir como menino. A "maldade" está nos olhos de quem vê a garota e já pensa que ela está "desafiando os limites dos gêneros masculino e feminino", limites esses impostos pela sociedade e que nada tem a ver com o ser humano em si.

É bom ver uma criança crescer tendo a liberdade pra escolher o que e quem quer ser. Não posso opinar sobre o que pensa Angelina Jolie, já que (infelizmente!) não a conheço pessoalmente, mas tenho certeza de que Shiloh vai se sentir melhor, quando for adulta, por ter tido a oportunidade de experimentar com as coisas do jeito que ela faz, sem receber recriminações ou ser forçada a usar "roupas de menina" e brincar com "brinquedos de menina" e ser tolhida de suas vontades e desejos para se tornar um modelo ultrapassado de feminino. Acredito que a própria Angelina passou por isso, e não vai ser ela a encaixar sua filha num padrão como se ela fosse uma forma para biscoitos.

E vamos combinar que é cedo demais pra especular sobre a sexualidade da menina? É quase ofensivo. Se Shiloh é ou não é, ainda teremos mais uns quatorze anos pra saber. Só sei que com os genes Jolie-Pitt que ela tem, com esses olhos azuis e essa carinha fofa, sendo hetero ou homo, ela vai com certeza arrebatar muitos corações, de homens e mulheres. Ô menininha linda!



To gatän, ahazei!



E essa foto não tem nada a ver com o post, mas é só pra vocês lembrarem de quem a Shiloh é filha... ai, esse genes...

E aí, qq vocês achäo? A Shiloh não fica fofíssima de tomboy? A Angelina não é uma mãe tuuuudo de bom?

Até meu próximo post - que eu tô me segurando para que não seja sobre um desenho tosquíssimo que assisto toda manhã na TV Globinho antes de sair pra trabalhar que me irrita com seu machismo gritante...

Beijos!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

...Pós-Férias!

Eu voltei. Eu sei, noto pelas lágrimas em cada um de seus olhos que vocês estavam morrendo, literalmente, definhando aos poucos de saudades de mim, mas calma, bolachinhas queridas! Sua porta-voz voltou!!!

...Ok, sério agora. Passei por uns três meses de intenso gasto físico trabalhando como uma camela, se camelos trabalham tanto assim. Depois, passei por mais um mês estilo Homer Simpson, babando e não fazendo nada, e agora resolvi voltar a escrever.

É só um postzinho de retorno, um "oi lembra de mim", e pra avisar que C. June não, bem, passou dessa pra melhor. Nem a dona do pseudônimo!

Passei também para dizer que recebi da linda e maravilhosa Pê (a namorada, ai ai...) o livro mais legal ever. Não, sério. O livro que modificou o modo como o século XX e o mundo todo vê a mulher. Mais: o livro que modificou o modo como a própria mulher se vê.



A Mística Feminina, de Betty Friedan

Betty era uma ex-jornalista que virou dona-de-casa e foi morar nos belos subúrbios americanos. Lá, começou a perceber como a vida de dona-de-casa era triste, chata, entediante. Percebeu também que não só ela, mas todas suas vizinhas escondiam esse mesmo sentimento por trás de seus sorrisos ao receber o marido do trabalho com uma carne assada nas mãos e ao passar a roupa dos seus cinco filhos.

Betty começou a pesquisar, voltou a trabalhar, entrevistou milhares de mulheres e descobriu o seio do que ela chamou de "o problema que não tem nome", aquela depressão presente em mulheres que achavam, e que eram convencidas, que tinham tudo que poderiam desejar.

Esse livro começou uma revolução que culminou na maior mudança de paradigma da história. Se você trabalha, se sua irmã tem a chance de se divorciar do marido dela se ele for um filho da puta, se seu pai ajuda sua mãe a limpar a casa, essa mulher foi o começo de tudo. Feministas, militantes dos direitos civis, até a luta por direitos das lésbicas devem muito a essa dona-de-casa que ousou se distanciar da "mística feminina".

Eu só li a introdução do livro, mas já me sinto muito fã dessa mulher. Obrigada, Betty, por eu poder ter a escolha de ser exatamente a mulher que quero ser.

(E obrigada, Pê, pelo melhor presente do mundo. Eu já te falei diversas vezes que gostei dele, mas vamos ver se com esse post você acaba acreditando! :D)

Agora que eu voltei, vê se voltem também, leitoras!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mapa da Homofobia, Glee, Pornôs e outras coisas

Vi uma notícia no site da Globo, dizendo que farão aqui em São Paulo um mapa para combater os pontos onde acontece mais crimes homofóbicos. A pesquisa só será concluída em 2010, mas eles já prevêem que o centro da cidade - principalmente a região da Paulista, e mais precisamente ainda, na Augusta - são pontos que devem ser monitorados.
Ora, demorou pro pessoal perceber que, puxa, ocorrem agressões a homossexuais todos os dias no centro da cidade. Aliás, o que precisamos é de uma campanha maciça, que aconteça no país todo, de conscientização dos direitos LGBTT. Não basta dizer que vai monitorar um lugar, e pessoas continuarem morrendo em outro. Pior ainda: não adianta dizer que vai monitorar se o descaso e o preconceito partem também daqueles que deveriam estar nos protegendo.

Mas daí, se formos falar do descaso da polícia, já vira um outro post gigantesco... eu e meu celular roubado que sabemos!

E como cada passo dado, por menor que seja, deve ser comemorado, então... vamos esperar que as coisas comecem a mudar, né?

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E mudando totalmente de assunto, estou viciada em um seriado de TV! Ah, isso não acontecia fazia tanto tempo. Desde quando The L Word foi perdendo a graça, e de quando meu ex-colega de trabalho parou de comprar os DVD´s do The Office eu não me empolgo tanto.

O nome da maravilha da FOX é Glee. É uma criação de Ryan Murphy, produtor televisivo gay assumido que também fez as ótimas Nip/Tuck e Popular (ai, gente, eu também amaaaava Popular!).
Murphy decidiu juntar todas as coisas que fazem parte dos seus seriados e de seu ser e criou o seriado perfeito, que mistura dramas adolescentes, dramas adultos, relacionamentos, uma pitada de humor e sarcasmo e... BROADWAY!
Então Glee trata de um grupo de alunos losers de um colégio e de um professor igualmente loser de espanhol que se juntam e resolvem dar continuidade ao "glee club" (espécie de grupo de coral) da escola, que fooooi famoso lá no tempo de mil novecentos e guaraná com rolha. O problema é que os alunos são super diferentes e estão no glee club por inúmeros motivos diferentes, cada um pertence à sua "tribo" e parecem não querer se dar muito bem. Temos o garoto "bichinha" que é zuado por todos os jogadores de futebol da escola e usa roupas de marca, temos o nerd de cadeira de rodas, a gótica que canta "I kissed a girl" no teste pra entrar no clube, a gordinha negra cheia de poste e atitude, uma garota criada por dois pais que sonha em ser cantora da Broadway um dia e o jogador de futebol que só se juntou a eles porque foi obrigado pelo professor mas que secretamente sempre quis ser músico. Turma bizarra, não?
O que é apaixonante em Glee até agora - estamos no sexto episódio da primeira temporada - é não só o apelo popular do programa, que utiliza de sarcasmo, ironia, humor colegial e músicas pop contemporâneas e clássicas pra atrair o público, mas da forma que ele mostra os personagens como puros estereótipos da sociedade, como os que encontramos em qualquer American Pie da vida, pra depois ir desconstruindo-os pouco a pouco. E esses personagens nos surpreendem às vezes. Quem assistir vai saber do que estou dizendo. ;)

E ok, Glee é só mais um seriado engraçadinho para adolescentes. Ou talvez não. Mas o que é legal é sentir nas entrelinhas as mensagens que Ryan Murphy quer passar - que vão além do usual "você pode ser o que você quiser ser, é só acreditar". E claro, ver o pessoal interpretando músicas como "Rehab" da Amy Winehouse versão musical da Broadway. Um luxo!

Assistam um preview de Glee aqui no Vimeo, porque a rede do meu trabalho odeia o youtube. =(


E ainda falando de seriados, "Anyone But Me", também conhecido como o seriado-teen-com-o-casal-de-lésbicas-mais-fofo-e-sexy-ever, está de volta em dezembro. Yay!!!

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E pra encerrar o post bem, vão até o Parada Lésbica descobrir o que a Rapha do Fala Rapha aprendeu com filmes pornôs com lésbicas. É engraçadíssimo!

Beijos a todas, e eu volto! (Daqui a um mês de novo... =P)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma recomendação rapidinha...

A colunista Silvia Kiss do Parada Lésbica escreveu um artigo muito interessante sobre a diversidade sexual dentro do próprio movimento gay ou, mais precisamente falando, a situação de uma garota "butch" dentro do LGBTT.

Acho que é muito importante discutir essa realidade e pensar em como temos os nossos preconceitos e nossos moralismos. E que só poderemos vencer o preconceito de toda a sociedade quando nos unirmos e percebermos que a luta de todos é igual.

Beijos, e tenham uma ótima segunda-feira (ah, o paradoxo...)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Coliriozinhos!

Era pra eu ter feito esse post antes, mas as coisas por aqui tão numa correria...de qualquer maneira, trago dois coliriozinhos pra vocês hoje!

Primeiro, Lily Allen toda sexy em um ensaio pra GQ britânica, revista que a elegeu Mulher do Ano (uau, tudo isso?). Nunca achei Lily lá muito bonita, mas com esse cabelo preto curtinho - eu tenho uma tara desgraçada por cabelo curtinho e por cabelo preto - e essas poses, não dá pra não gostar, né?
Mais fotos da mocinha - incluindo nudez, ui! - aqui.

E a segunda foto é a realização de uma de minhas fantasias de celebridade. Explico-me: esse é um casal que eu sempre achei que combinava demais, que seria super sexy junto e que deveria existir definitivamente. E não é que elas estão juntas?

Ok, é só pra essa foto, mas fala se Drew Barrymore e Ellen Page não são uma gracinha - principalmente trocando selinhos?

As duas posaram pra Marie Claire pra falar do novo filme, Whip It!, que eu não vejo a hora de assistir.


As duas passaram a entrevista de mãos dadas (Drew vestindo um cachecol que Ellen fez pra ela), Ellen convidou Drew para uma "aventura selvagem" (hmm!) e Drew comentou sobre como o corpo de Ellen é sexy.

Ai, ai, me matam essas duas!!

Próximo post, prometo que será menos baba ovo e mais sério. Mas é que né? Num deu.

Beijos!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Ninguém deixa a Baby no canto."

Quando era adolescente, por causa da minha mãe, descobri Dirty Dancing. Anos depois, quando conheci minha namorada e a contei que esse era, em segredo, um de meus filmes preferidos, ela propôs uma teoria ótima relacionando o filme a um despertar: da idade adulta, da sexualidade, do desejo.

Quando era adolescente, dizia que queria fazer a dança da Jennifer Grey. Anos depois, percebi que quem eu imitava era o Johnny mesmo...

E Patrick Swayze não estava fazendo papéis de sucesso ultimamente. Mas eu sempre vou lembrar dele como Johnny Castle, e como uma travesti lindíssima em "Para Wong Foo, Obrigada Por Tudo".

E sei lá, fiquei triste que Patrick se foi. Eu torcia pra que ele vencesse a batalha contra o câncer pancreático.

E na minha cabeça, vou ficar com a imagem dele dançando ao som de "I´ve had the time of my life". Era piegas, era brega, mas era fofo. E eu gostava daquele tempo e daquele espaço.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Você vendeu o movimento feminista, véio!

Cara, e a nova propaganda do Boticário, hein?

Sabe, quando eu era adolescente, detestava quando homens mexiam comigo na rua. Tinha um verdadeiro asco por aqueles tiozões borracheiros com aquela barriga de cerveja enorme te mirando de cima a baixo e dizendo "e aí, princesa?".
Um dia, voltando revoltada da escola com as coisas que ouvi na rua, disse a minha mãe que odiava que mexessem comigo. Minha mãe retorquiu com um "mas toda mulher gosta de se sentir bonita, gosta de elogios". Eu disse que não, que EU não gostava, que EU queria passar pela rua despercebida, quietinha, com meus pensamentos e minha mochila. Estufei o peito, empinei o nariz e bradei "porque eu, mamãe, eu sou feminista!"
Minha mãe fez uma cara de horror e disse "Credo! Isso não! Feminismo é coisa de lésbica e mal-amada!"

(Ok, mamãe, você adivinhou a metade...)

Eu tinha 15 aninhos quando isso ocorreu, e lembro que a crítica de minha mãe bateu fundo. Por anos, eu me identificava com todos os ideais, mas tinha medo de me aprofundar, de me auto-denominar feminista, porque era uma coisa ruim. Chata. Radical. Eu temia ficar chata, entediante e radical.

Por que digo isso? Porque ao ver a nova propaganda do Boticário e perceber algo que eu provavelmente não perceberia aos 15 anos de idade, eu sinto que prefiro ser chata, entediante e radical do que engolir a pretensão, a hipocrisia e a manipulação contidas no comercial.

Prometo que vou achar um vídeo pra postar aqui do comercial, mas a história é essa: eles mostram imagens em preto e branco nos lembrando que as mulheres lutaram por seus direitos em épocas passadas. E conseguiram. (Entra então uma executiva andando com passos de Gisele Bündchen pela rua, toda linda e produzida.)
Mas então, foram usurpadas de um bem importantíssimo: tempo. Tempo? Sim.

Tempo de cuidar de sua beleza, oras!

Pra começo de conversa, é de uma heresia ímpar usarem o movimento feminista para vender creme pro corpo, assim como é usar os ideais de qualquer movimento pra vender algo que seja, no fundo, contrários ao próprio movimento e/ou, simplesmente, comerciais.

Mas o pior de tudo é usar o feminismo para passar uma ideia essencialmente oposta ao próprio feminismo. Afinal, você fala em feminismo e diz que a mulher precisa dedicar seu tempo para cuidar de sua beleza? De sua aparência? E onde isso está diferente do que diziam ANTES dessas citadas conquistas?

Empresários são conhecidos por seus negócios. Independente de serem altos, baixos, gordos, magros, empresários são empresários. Agora a mulher empresária, de acordo com a campanha, deixou de lado seus cremes. Deixou de lado seu tempo pra beleza. Deixou de lado, enfim, sua feminilidade. Os homens não precisam escolher entre família e emprego. Não precisam dedicar um tempo de seu dia para "cultivar" a sua virilidade. Afinal, ser pai é viril. Ser empresário é viril. Trabalhar e tomar uma cervejinha no bar são igualmente atos viris. A virilidade vem naturalmente.

Já a mulher precisa reservar um tempo para se manter mulher. Em casa, na cozinha, na frente do espelho passando batom, ela se torna mulher. A partir do momento que põe o pé pra fora, vai trabalhar, vai realizar todas aquelas coisas que conquistou, ela deixa de ser mulher. Ela é, como dizem os ingleses, "the odd man out" - o intruso.

E é isso que o Boticário realmente está dizendo no seu comercial simpático e "feminista", que na verdade mascara com um falso feminismo, um feminismo de boutique sex-and-the-city, o mesmo discurso conservador que permeia as palavras de minha mãe 9 anos atrás e toda a base de nossa sociedade ainda tão arcaica e machista: Parabéns por ter conseguido seus direitos, mulher. Só que isso fez de você menos mulher do que sua avó era. Mas não faz mal. Nosso creme está aqui pra recuperar a mulher que você perdeu.

Valeu, mas eu passo. Prefiro continuar sendo uma mulher chata, entediante e radical. Pelo menos aí, vocês não podem tirar a mulher de dentro de mim!

domingo, 16 de agosto de 2009

42

Escrever.
Selecionar tudo. Deletar.
Escrever.
Selecionar tudo. Deletar.

E eu, que fico buscando a perfeição inatingível do post. Um post à altura do tema do blog. Um post à altura de você e de todas as coisas que você me ensina. E que você aprende. E que você apreende.

E hoje eu queria falar de como foi o almoço da minha família. De como certas coisas me incomodam tanto. Me incomodam cada vez mais. Os pequenos preconceitos travestidos de piadas, os velhos ditados e lugares-comum, a tia que acredita em ficar ao lado do homem que escolheu a vida toda doa a quem doer versus a prima que separou do marido para buscar a felicidade. Realidades tão longe da minha... e eu tão longe de todos eles.

E você que sorri e diz "criei um monstro!"

E eu que faço bico de criança mimada, pensando que o feminismo dentro de mim não nasceu com você não. A revoltazinha dentro de mim não é um eco da sua não!

Então paro e penso. Paro e penso que você não criou um monstrinho não. Você criou luz. Você criou vida. Você criou significado para toda uma existência de incertezas. Que você transformou em coisa material, palpável, a sensação de não-estou-sozinha. A sensação de mentes que caminham unidas. Corpos que pulsam em uníssono.

Que não vou repetir os erros de gerações passadas e posso descansar meu coração revoltoso. Que tenho tudo que sempre desejei: diálogo, companheirismo, amor, sintonia.

E nós compartilhamos ideais. Idealismos. Ideias. E o travesseiro, o cobertor, o calor das mãos e o sabor dos lábios.
A cabeça e o coração.

E é isso que faz ser tão gostoso com você. E esquecer que o mundo é tão complicado. Esquecer que é uma luta diária estar com você.

Amor. Tanta gente por aí procurando feito louca, e eu, justo eu, fui achar da maneira mais deliciosa e confortável possível.

E eu, pronta pra escrever um post-palanque sobre o almoço em família, acabei escrevendo um post-romance sobre você.

É. Esse post não saiu nada do jeito que planejei. Mas hoje, ele é pra você. Só pra você.

Feliz um ano e meio, gata. Te amo. Assim, pra sempre.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Coliriozinhos e uma medalha para Harvey

Ai ai. Cumprir deadlines realmente não é meu forte.

Tive dezenas de tentativas de diário na infância e na adolescência, e todas foram arruinadas pelo mesmo motivo: falta de compromisso.

E cá estou eu, duas semanas sem postar no McP! A minha gatinha Pê já havia até desistido de pedir, sabem? Mas uma notícia me fez voltar.

Amy Winehouse é flagrada aos beijos com outra mulher!

Ok, a notícia vem da Revista Quem (uma puta credibilidade, not.), mas é demais! Amy Winehouse faz meu tipo: rebelde sem causa, lokadibala, auto-destrutiva e complicada. Adoro. E ela, quando está minimamente saudável, até tem um charme com aquele look retrô. Mas como é que eu nunca havia pensado nisso?

C. June gosta de gente que fala, mas C. June gosta ainda mais de gente que FAZ. E Amy Winehouse é assim.

Bem melhor do que certas celebridades por aí que, depois de casadas com cinco filhos, vem me dizer que é bissexual porque um dia beijou uma coleguinha no banheiro da escola, né?

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E você pode não ter achado colírio a Amy Winehouse beijando uma loira em St. Lucia (romantismo no ar!), mas tem que concordar comigo: a nova Batwoman é lindíssima!





Kate Kane, voltando de mais uma de suas noites, e a namorada não entendendo nadinha.

HQ´s não são o meu forte, apesar de eu ter muito respeito pelas revistas que combinam arte e roteiro impecáveis. (Houve uma época, na minha adolescência, que eu era apaixonada por mangas, que são o equivalente oriental do HQ, mas essa é ooooutra história...)

Mas depois de conferir algumas páginas dos quadrinhos da (agora, assumidérrima) Kathy Kane, fiquei com uma vontade de ler essa história.

E a Batwoman é linda, mas Kate Kane é uma fofa, não é? Atoron o perigon desse cabelo dela!



Batwoman acabando de acordar. Hmm, quem despenteou você assim, hein gata?

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E agora, falando sério, Harvey Milk e outros militantes da causa LGBTT foram premiados com a Medalha Presidencial da Liberdade, que é a maior honraria que um civil pode receber nos EUA.

Achei um belo reconhecimento de um homem que ajudou a mudar "um pouco" a situação de gays e lésbicas nos EUA. E os States são um país controverso: modelo de comportamento e expressão cultural no mundo todo, eles são ainda muito atrelados ao conservadorismo e puritanismo dos seus antepassados. Afinal, sabemos que as palavras preferidas do americano médio é "Deus" e "América", não necessariamente nessa mesma ordem.

Por isso, "engolir" uma atriz que beija garotas, para eles, já é difícil. Imagina um homem assumidamente gay entrando na política? Harvey Milk foi um homem corajoso, e muito importante para a história de seu país e de nosso movimento. E é bom ver a importância dele reconhecida, bem como a importância dos outros ganhadores da medalha, todos personalidades que lutaram por um mundo mais justo.

Vou tentar me concentrar no trabalho, agora. Sexta feira e a hora não passa... boa noite pra vocês!

domingo, 2 de agosto de 2009

Por que adoro a Lady GaGa e filmes

Ok, eu sou roqueira. Isso me lembra meu melhor amigo, que diz que "roqueiro" é quem faz rock, e quem apenas gosta seria o que, rockfílico? =P Mas isso não vem ao caso. O fato é que sou roqueira. Daquelas que ouve desde riot grrl até umas coisas velhas tipo Johnny Rivers e Jerry Lee Lewis.

Mas uma sementinha dentro de mim adooora música pop. Aquela coisa bem dançante, música de buatchy, com coreografias a la Thriller. E essa sementinha vira um abacateiro quando eu ouço Lady GaGa. Ela é a artista pop perfeita! Ela tem a voz, ela tem o tato para músicas chicletes, ela tem o dom de surgir com as vestimentas e os estilos mais loucos e espalhafatosos e ela dança de maneira ridícula, tão ridícula que você não desgruda os olhos e quer imitar.
Alguém que tem a sensibilidade de perceber que um "du ru ru ru ru just dance" e um "po po po poker face, po po poker face" vai grudar na cabeça das pessoas, e eles vão repetir isso o dia todo. Uma vendedora de mão cheia.
Mas além disso, Lady GaGa tem o talento para polêmica. Seja com sua falta de vontade de usar parte de baixo de roupa, seja por seu gosto em fazer laços gigantes com o próprio cabelo e seja por falar o que pensa. Bem, o que pensa naquelas. É lógico que Lady GaGa sabe que o que vai dizer vai lhe render fãs (súditos, praticamente) entre aqueles que mais ouvem o tipo de música que ela faz: os gays. Ainda sim, acho ela mais verdadeira e menos oportunista do que, digamos, Katy Perry quando diz:
"Se eu fosse um homem, e eu estivesse sentado aqui, com um cigarro na mão, pegando no meu pinto e falando que eu faço música porque eu gosto de comer mulher e dirigir carros rápidos, você me chamaria de rockstar. Mas quando eu uso sexualidade na minha música e nos meus clipes, e com o fato de eu ser MULHER e fazer música POP, você me julga e você diz que (minha expressão de sexualidade na minha arte) desvia a atenção. Eu sou só uma rockstar."
Se você está dizendo isso pra nos agradar ou realmente pensa assim, GaGa, eu não sei. Mas olha, te aplaudo por essa. Atoron!
(citação tirada de - e possivelmente traduzida por - /novaelisa)
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E duas dicas de filme: um que eu vi recentemente e outro, que ainda não estreou por aqui, mas cujo trailer eu a-do-rei.

Em Nome De Deus




P. tem uma verdadeira coleção de filmes, e ela está sempre me aconselhando (leia-se "forçando", hehe!) a assistir um ou outro. Essa semana ela deixou uma pilha de dvd´s comigo, e um deles era esse. Lindo e tocante. Acredito que seja um dos filmes mais difíceis de assistir, pra mim, porque é algo que acaba me impressionando muito. Afeta meu lado feminista e meu lado anti-católico, e ultimamente não sei qual dos dois está mais aflorado, e com os dois juntos? Nossa, me derrubou.
A história se passa na Irlanda da década de 60. Vemos a história de três garotas. Margaret está em uma festa de casamento e, levada ingenuamente por seu primo para um canto afastado, acaba sendo estuprada por ele. Rose é uma adolescente que acaba de ter um bebê e o assiste ser levado para adoção por freiras. Bernadette é uma garota muito bonita que está atraindo a atenção dos garotos e correspondendo. Qual a solução para esses três casos?
As três são trancafiadas - por tempo indeterminado - em um "lar para mulheres", que entre o povo, é a mesma coisa que um reformatório para prostitutas e degeneradas. Tratadas como "vagabundas" pelas freiras, são obrigadas a trabalhar o tempo todo, lavando, limpando, rezando. São punidas com castigos físicos e psicológicos por motivos banais, como "você estava conversando em vez de esfregar a roupa suja". A ideia é que, sofrendo dessa maneira, elas serão perdoadas pelos seus "pecados" e conseguirão um espaço no céu.
Essa história é verídica. No final, temos a informação de que lugares como esse existiram por décadas, e o último deles - pelo menos na Irlanda - foi fechado apenas em 1996.
É só assistir esse filme para sermos lembrados de como as mulheres ainda sofrem com o machismo da sociedade, e de como a Igreja Católica errou muito. E ainda erra.




E a outra dica é um pouco mais leve...

Whip It!

Dirigido por Drew Barrymore, o filme conta a história de Bliss (Ellen Page - ai, me abana!), uma garota meio nerd que é obrigada pela mãe a participar de concursos de beleza. Um dia, ela se cansa e decide encontrar algo mais interessante pra sua vida e então ela conhece um grupo de patinadoras de corrida e acaba se apaixonando pelo esporte e se encontrando.
E no filme estão, além da Ellen e da Drew, a Juliette Lewis e Alia Shawkat (que fazia a filha de Portia de Rossi em Arrested Development). Tantos colírios pros meus olhos...




Ele sai em outubro nos cinemas dos States, nem sei quando vai aparecer por aqui (ou SE vai), mas estou aguardando, porque gente... Ellen Page, Drew Barrymore e Juliette Lewis patinando? É fetichista!

Beijos pra todas!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Meu primeiro comentário de ódio!

Peguem a champagne, o canapé com caviar e brindem!

Recebi meu primeiro comentário homofóbico, e quero compartilhar com vocês. Sim, porque é pra dar destaque!

Abre aspas...

"ah, eu sou hetero e acho errado essa luta por direitos iguais. As pessoas Ht tem direito de não gostar dos homos. Claro que também não tem o direito de prejudicar a ngm pela sua opção. Agora, quais as vantagens que um casal hetero tem que 2 pessoas homos não tem? Isso que eu não entendo. Os heteros nunca precisaram pedir direitos. Os direitos sempre estiveram ao alcance de todos. É verdade que ao adquirir um seguro, por exemplo, o valor cai devido ao pressuposto que pessoa com família tem mais responsabilidade (cuidar financeiramente e amorosamente da conjuge e filhos) e o risco de causar acidente é menor (em termos). Agora, numa sociedade em que marido e mulher ganham a mesma coisa, essa independencia financeira faz com que somente a familia completa (+filhos) venha a resgatar a imagem da responsabilidade pelo cuidado para com outrém. Já 2 homos nunca terão como fazer isso, pois não tem como engravidar por meios naturais, sempre há um terceiro na jogada. Eu, como cristão, não tenho preconceito, não sinto vontade de espancar. Mas ser assediado por outro homem me dá um asco terrível e aí sim dá a mesma vontade de espancar q uma mulher sente qdo algum velho tarado mexe com elas. Tem mto gay por aí que fica mexendo com os outros sob a proteção que homofobia é crime. Um gay da minha facul uma vez passou a mão na minha bunda, mano, deu vontade de matar o cara. Mas daí eu seria o "homofóbico", fala sério. E fora que os gays hoje são tudo marombado, não tem nem como. Narcisistas hedonistas, superlegais, divertidos e inteligentes. Mas egoístas ao extremo. Todo homossexual é egoísta ao extremo. É muito difícil ter um relacionamento profissional ou acadêmico com um Hm pq sempre terá uma intenção sexual. O ht sempre terá essa desconfiança, por trás de cada atitude do hm, que as vezes é coisa da cabeça dele. Independentemente se existe intenção ou não, o fato é que isso torna a relação desgastante. Eu falei um monte e isso não muda nada pra ngm, nem pra mim nem pra vocês, o que torna minhas palavras inúteis, pq elas nao provocam mudanças no caráter de ngm. Por isso, o máximo que eu posso falar é que existe um amor maior, que provoca mudanças e satisfaz TODA e qualquer necessidade do ser humano, física, mental e espiritual, que é o amor maior de Jesus. Infelizmente, mesmo os portadores desta palavra de amor não veem as pessoas com os olhos de Jesus, cujo objetivo final é ter as pessoas junto a Ele, fazendo-as completas, sem mágoas, sem culpa, plenamente felizes mudando o conceito de felicidade construído desde que o mundo é mundo. A essência da felicidade de Jesus é o relacionamento humano, entre nós mesmos e com Ele, adorando a Jesus e sendo gratos pelo cuidado que Ele nos dispensa a cada dia. É um sentimento de paz tão grandioso que parece que vai estourar dentro da gente, muito bom mesmo! Se tiver um tempo, apenas pronuncie, sozinho no seu quarto "Jesus, eu preciso de você aqui e agora!" daí a cada dia vc vai sentir uma alegria diferente, mais real e perene. Bem loco o negócio. Muitas coisas foram faladas em relação aos que adoram a Deus, mas muita coisa é fictícia.
um abraço, fiquem na Paz."


Ah, tantas coisas a dizer sobre esse belo e eloquente comentário.

Primeiro, todo religioso que se preze TEM que falar de Jesus em TODOS os momentos. É um post sobre receita de bolo? "Ah, fiz em casa, ficou uma delícia. Mas seria bem mais delicioso se você tivesse aceito Jesus em seu coração. Viva Deus. Amém."

O que é difícil para religiosos extremados é reconhecer que sua religião não é única. Sim, querido. Não é. Há três mil anos atrás, ninguém nem conhecia esse barbudo que anda com 12 amigos do peito, e acreditava em outro(s) deus(es). Na Índia, as pessoas ainda acreditam em uma infinidade de deuses diferentes. E os budistas acham que não existe um Deus. Que coisa não? Isso se chama diversidade. E ela está espalhada em diversos aspectos da humanidade: diversidade de pensamento, de opinião, de religião, de raça, e de sexualidade. E é isso que faz a raça humana algo incrivelmente belo e interessante. Que existam pessoas tão diferentes quanto um padre, um torcedor do Corinthians, uma senhora que gosta de jardinagem e um adolescente metaleiro. Com uma infinidade de gostos e vontades e pensamentos e histórias.

Eu, por exemplo, não consigo pertencer a uma só religião porque acredito não estar respeitando as outras ao afirmar que a "minha" é correta, mesmo que seja só pra mim. Porra, se um monje budista chega pra mim e diz que acredita ter alcançado o Nirvana, algo pelo qual ele passou a vida inteira procurando, quem sou eu pra dizer que o cara é louco? Prefiro acreditar em uma força cósmica ou algo do gênero. E só. Ou prefiro acreditar nas teorias simpáticas e esquisitonas de supercordas e tal. E me sinto bem assim, muito feliz, obrigada.

Em segundo lugar: eu não sei o quão irônico, sarcástico ou ignorante é esse moço, que vem em um blog majoritariamente feminista e lésbico e não cita em nenhum momento a situação das lésbicas. O problema dele é com os gays que dão em cima dele - os marombados, claro, porque gays são um produto especial e pré-definido que se compra na farmácia, vem tudo igualzinho. (Meu melhor amigo gay é magrinho, franzino e usa óculos, mas né, vai ver que ele é só nerd, não pega mulher e tá confundindo tudo, cof cof.) Nem vou entrar no mérito de isso cheirar a enrustismo, claro.

Ele cita as mulheres em um momento, sim, quando ele diz que receber uma cantada de um gay é comparável a uma mulher receber uma cantada de um velho e sentir vontade de bater nele.

Meu filho, não é.

E não é porque por trás de uma mulher ser assediada por um homem (velho ou novo, feio ou bonito) está relações de poder e hierarquia entre gêneros existentes há milênios que escravizam, diminuem e desvalorizam a mulher e que nós tentamos destruir pouco a pouco.

Não é, porque quando você é assediado por um outro homem, é "recomendável" que você se zangue e até mesmo o agrida porque isso vai reafirmar sua masculinidade, sendo que você pode fazer a mesma coisa com uma mulher e é "recomendado" que ela aceite com um sorriso e uma piscadela porque isso reafirmaria a feminilidade dela, mesmo que ela não gostasse e não quisesse que você a paquerasse.

Concordo com você em um ponto, Douglas. Você tem direito de não gostar da gente. E nós também temos o direito de não gostar de você. Todos tem direito de não querer, não gostar, não aceitar e não concordar com qualquer coisa. Mas DIREITO se aplica a você da mesma forma que se aplica a mim. DIREITO todo ser humano tem, tanto você quanto sua vó, sua vizinha, o garoto que senta no canto de sua sala que você detesta e o travesti que você encontrou na última esquina. Não é você que determina isso. Não são os heteros que determinam isso. São todo e qualquer membro da sociedade em que vivemos e isso, quer você queira quer não, a bichinha da sua sala é, os gays são, EU também sou.

Essa é a beleza da democracia, não é mesmo? Você diz o que pensa, eu digo o que eu penso, e nós decidimos uma situação em que nossos pontos de vista possam caminhar em harmonia. Agora, o que não é aceitável é você falar de "vocês, heteros" como se o mundo fosse dividido entre sexualidades e vocês decidissem, sozinhos, como a coisa funciona. Eu tenho meu título de eleitor, e eu escolho quem vai me representar no governo. Eu tenho meu CPF e meu RG, e sou uma cidadã desse pais. E sou produtiva, trabalho e pago meus impostos direitinho. Assim como você, ou seus pais e avós e etc. Não há uma simples razão para que minha voz seja menos ouvida que a sua. E mesmo que eu fosse desempregada e analfabeta, ainda sim, não haveria uma só razão para que minha opinião importasse menos. Não é o seu preconceito em relação ao que eu faço ou não com minha vida pessoal que vai pesar nessa balança.

E em último lugar, sua visão sobre família é tão errônea e ultrapassada que eu nem sei por onde começar a comentar. Família NÃO é mãe, pai, dois filhos e um cachorro. Pode ser o conceito ideal que vem escrito em livros e leis, mas não é a realidade. Nunca foi. (Ou nunca existiram famílias em que o marido morria, e a esposa decidia cuidar dos filhos sozinha e não casar novamente?) Hoje, é menos ainda. Atualmente, é comum as famílias em que a mãe é mãe e pai ao mesmo tempo. Ou que o pai é quem cuida das crianças enquanto a mãe vai trabalhar. Ou que dois homens ou duas mulheres cuidam dos filhos. Ou ainda, famílias heterossexuais em que o homem e mulher se bastam, e não querem ter filhos. Em todas essas famílias, essa noção de responsabilidade que você tanto preza continua existindo. Mas de uma forma que você não reconhece, não é mesmo? Porque para você, responsabilidade é coisa de homem, para cuidar da mulher e dos filhos, extensões de suas propriedades. Bem, eu e minha namorada pensamos em nos unir um dia. Em adotarmos nossos filhos. Trabalharmos para prover a eles saúde, educação e muito amor. É uma responsabilidade conjunta, de nós duas. E a responsabilidade uma com a outra. Não aquela machista, de "prover" para o outro que é mais fraco, inferior. Não. Mas a de ajudarmos uma a outra a crescer, a viver, a ser feliz.

ISSO é uma família. Para mim, família é amor, acima de tudo. É poder contar com alguém que vai sempre estar com você, sempre estar ao seu lado. É ter um lugar pra voltar sempre que precisar. E isso, nem sempre, é o trinômio mamãe-papai-filhinho. Mas é o que cada um julgar necessário e confortável. É, mais uma vez, a opinião e o sentimento de cada um, e não cabe a nenhum setor da sociedade julgar qual é a família certa e qual é a errada, e por isso mesmo é que não devem existir padrões a se seguir.

Como dizem os americanos, esses são meus "dois centavos" sobre o assunto.

Se esse comentário acima do tal do "douglas" é verdadeiro ou não, eu nem sei. Tem tanto fake por aí na internet, né mesmo? Mas o triste é que tem MUITA gente que pensa assim. Mudar a mente de alguém, dificilmente a gente muda, porque a pessoa tem que mudar sozinha. Mas não custa nada tentar ajudar, né?

domingo, 12 de julho de 2009

Índia gay, o STF e o MV Bill

Hello, girls. Estou de férias e quem diria? Estou mais sumida do que nunca. É que férias dá aquela sensação e vontade de não fazer nada, absolutamente nada. Ainda mais com o friozinho que está fazendo em Sampa... fico só debaixo do edredon, jogando games estúpidos no notebook e ligando pra Pê pra falar que tô com saudade. Eita.

Mas hoje estou postando. E em mais um daqueles momentos em que o mundo me faz mais otimista e me faz crer na salvação da humanidade - veja só, que épico - colhi algumas notícias interessantes durante o dia de hoje.

Primeiro, notícia "velhinha" mas que só vim a descobrir hoje. A Índia, finalmente, legalizou a homossexualidade. Ainda que o máximo que eu acompanhe da sociedade indiana seja as danças frequentes em Caminhos das Índias (ops, brincadeira), sei que a Índia ainda é um país essencialmente machista, homofóbico e muito preso às tradições antigas. E ainda que seja um absurdo ver que, no século XXI, um país ainda considere a homossexualidade um crime, essa é uma decisão importantíssima porque não só beneficia a vida de milhões de gays que vivem no país como também indica uma mudança nas visões antiquadas do lugar. Quem sabe com essas considerações a favor dos homossexuais, a Índia também não se encoraje a reconsiderar sua postura em relação às mulheres? Um passo a frente, ainda que pequeno, sempre é um passo à frente.

Enquanto isso, no Brasil, a Procuradoria Geral da República entrou com um pedido para que o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheça as uniões homossexuais (ou homoafetivas, como são tratadas no Direito).

A procuradora Deborah Duprat alega que a Consituição estabelece que todos os indivíduos tem os mesmos direitos, independente de raça, cor, gênero, etc. Logo, negar o reconhecimento aos homossexuais de realizarem uniões como os heterossexuais seria uma violação de seus direitos, que deveriam estar em pé de igualdade aos dos heteros. Muito válido, não?
O julgamento desse pedido provavelmente será só no próximo semestre e a Pê, minha guia em assuntos jurídicos, acredita que o pedido seja negado, infelizmente, mas que o certo é continuar lutando. É somente com pressão que a lei vai mudar e, como a própria Pê diz, é só com pressão da lei que a sociedade aceita mudanças.

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E hoje eu estava assistindo o programa do Faustão com meu pai (família é essas coisas) e quem estava por lá? MV Bill; falando de sua passagem pelo Haiti e de como foi se encontrar com o povo de lá e com as missões de paz brasileiras. Depois, o moço cantou uma de suas músicas novas tratando do preconceito na sociedade, coisa que ele e o hip hop fazem bem. Mas é, fiquei com isso na cabeça, pensando que MV Bill é uma pessoa interessante e tal.

Então, coincidentemente, encontro na internet uma entrevista com ele falando sobre o preconceito em relação aos gays dentro do próprio hip hop. Fiquei sabendo que ele aderiu à campanha da criminalização da homofobia e, nesse link aí em cima, ele dá uma entrevista bem legal sobre o tema. Acho válido o apoio de um cara heterossexual que vem de um background um tanto quanto machista e homofóbico, e que tem uma voz tão forte na periferia.

É a prova de que a gente não pode colocar a culpa da mente fechada e do preconceito em "ah, mas eu fui criado assim" ou "mas de onde eu venho todo mundo pensa desse jeito".


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E pra descontrair, eu vou apresentar aqui um personagem muito importante pro McP! (=P)
Algum tempo atrás, minha namorada me presenteou com um pintinho de pelúcia que ela diz que, quando viu, lembrou logo desse blog.

Bem, eu fui e o batizei de oPinto! porque, bem, é o que ele é! E ele é o mascotinho do blog agora...

Conheçam oPinto!





Aqui, oPinto! com essa que vos bloga.



E aqui, ele com P. June, a segunda mãe do McP.


Ele não é lindo? =P

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Blog Stonewall e o Fuck You brasileiro

Lembram-se de que o blog Stonewall estava convocando a galera para fazer um vídeoanti-homofobia semelhante aos americano e francês com a música da Lily Allen?

Pois é. Ele ficou pronto (editado por Mariana Velasco) e saiu ontem no blog. Quem quiser dar uma conferida, assista embaixo e atentem para uma garota meio doida com uma gravata de arco-íris, plumas e óculos bizarros.



Sim, prazer, sou Camila (ou C. June) e sim, I was on pills. =P

Ok, sou suspeita pra falar, mas não ficou uma graça?

Um agradecimento ao pessoal do blog Stonewall pelo ótimo clipe!


domingo, 28 de junho de 2009

Kinsey, o filme.

Dias atrás, assisti o filme "Kinsey", que a namorada me emprestou. (Engraçado que eu sou a pessoa de audiovisual, mas quem coleciona filmes é a Pê.) É interessantíssimo perceber a evolução que as pesquisas de Kinsey tiveram em sua época e, embora muitos digam que os métodos do doutor não eram lá muito morais ou apropriados, acho que a contribuição dele foi enorme. Imagine alguém dizer, mais de cinquenta anos atrás, que a sexualidade humana se dividia em 6? Que você podia ser totalmente bisexual, ou hetero com vontades gays, ou gay com recaídas heteros...E dizia ainda para uma sociedade que, como uma cena engraçada do filme denota, nem sabia que existia mais do que uma posição sexual?

Mas eu não achava o filme nada mais do que um filme legal, interessante, até chegar em uma cena, bem no finalzinho.


Kinsey começou escrevendo um livro sobre a sexualidade masculina, que foi polêmico e criticado mas acabou indo parar na cabeceira de todos os casais e adolescentes cheios de hormônios. O problema é que ele decidiu fazer um livro sobre a sexualidade feminina depois e... vocês imaginam. Pessoas se horrorizaram que ele estivesse estudando a masturbação em mulheres, o orgasmo feminino, a sensibilidade do clitóris e daí ele foi rechaçado, teve os incentivos financeiros para suas pesquisas retirados e acabou ficando perdido, na rua da amargura. Velho, ele está quase desistindo de suas famosas entrevistas de pesquisa sexual, quando ele entrevista a senhora acima, interpretada por Lynn Redgrave.

Ela conta que era casada, com filhos, e quando os filhos saíram de casa, ela resolveu voltar a trabalhar. E então ela conhece uma colega de trabalho e se apaixona. Atordoada com o sentimento e negando sua própria essência, ela recorre ao álcool, o que leva seu marido e seu filho a se afastarem dela.

Nesse momento, Kinsey conclui que "é, isso é um sinal que nossa sociedade não mudou nada."

Daí, a mulher diz que mudou sim. Graças ao livro dele, ela percebeu que outras mulheres estavam na mesma situação, começou a se aceitar, se declarou para a colega e descobriu, surpresa, que ela sentia a mesma coisa e que, agora, estavam juntas e felizes há três anos.

E ela termina com um elegante e bonito ato. Ela se levanta, aperta a mão do pesquisador e o agradece por salvar sua vida.

É claro que é um filme. Hollywoodiano. Clichê e sentimental. Mas não pude deixar de pensar em como isso é verdade. Ainda sofremos muito preconceito por sermos gays, e por sermos mulheres. Mas também temos que pensar no quanto já conquistamos até aqui. E mais ainda: que isso pode ser feito. A sociedade pode ser transformada. As coisas podem mudar e se tornar mais aceitáveis.

Acho que estive buscando uma certa fonte de otimismo esses dias, por diversos motivos. E quando penso que as coisas estão péssimas, eu tento lembrar de cenas como essas - não posso negar que, por meu gosto e minha profissão, minha vida acaba sendo influenciada pelo cinema - de que as coisas podem mudar. Em pequena e grande escala.

(Pê deve estar orgulhosa de mim por esse post. A otimista aqui, normalmente, é ela.)

Veja um vídeo da cena aqui.

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No meu post sobre o Ladyfest, eu falei sobre a Tiely, que participou do debate sobre feminismo e depois subiu no palco para fazer umas rimas. Bem, ela está aqui nesse post do Dykerama falando sobre o grupo que participa, o Hip Hop Mulher.

Eu não sou nada conhecedora de Hip Hop, mas achei bem interessante a iniciativa. E confesso que achei a Tiely super legal e talentosa!

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Hoje, minha namorada e minha melhor amiga, duas figuras muito importantes na minha vida, estão prestando um exame fudido para conseguirem uma "carteirinha aí" de uma ordem "mixuruca aí" chamada OAB. E eu, como namorada e amiga, acabo ficando nervosa junto com elas, e passei a tarde roendo as unhas por causa disso (e da agonia que a seleção me fez passar na final da Copa das Confederações).

Gata, espero que você tenha se saído bem. Boa sorte!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Essencialmente Narcisístico

Hoje - ou melhor, ontem, porque já se passa da meia noite - faço 24 anos.

É complicado pensar nisso. Bom, pelo menos pra mim. Tenho a tendência de racionalizar demais, com uma pitada de imaturidade, um certo TOC em relação a datas e números e uma grande parte de síndrome de Peter Pan.

Engraçado pensar que, quando eu tinha 07 anos, dizia que estaria casada aos 24. Quando tinha 16, dizia que estaria é curtindo a vida aos 24. Aos 23, dizia que nem sei direito para onde as coisas estão me levando.

E aqui, aos 24, ainda sinto que é tempo de sonhar e fazer planos. Às vezes me sinto velha, porque estou acostumada a ser livre como uma adolescente, birrenta como uma adolescente, a sentar-me na escada de calça jeans e all-star como uma adolescente. Mas por que não haveria de fazer planos agora?

As coisas me parecem um tanto mais plausíveis agora. E não é bom planejar quando sabe que pode alcançar?

Agora, não me parece mais impossível juntar dinheiro, sair de casa, ir morar com minha namorada e viver a vida como eu quero, não como me foi determinado. Talvez um pouco difícil, a grana anda curta, mas não impossível. Planejável.

Em 24 horas tive uma crise imensa. "Meu Deus, estou velha. Minha vida está acabado. Ruuuugas! Eu gostava de ter 23 anos... será que não me acharão patética por ainda escutar Riot Grrl? Será que não deveria estar num emprego melhor, ganhando mais? Será que é agora que começa as conversas de ´quero te levar no altar´e ´quando vem o neto´?"

Mas quer saber? Agora já estou com 24 anos e sinto que, ultimamente, estou sendo eu de verdade. Eu como nunca fui antes. Um tanto mais sábia, um tanto mais centrada, mas ainda com muito a aprender. E ainda do jeito torto e gauche que o anjo disse que eu deveria ser na vida.

E xô crise. Os 16 passaram...os 19 vão deixar saudade... os 23 foram deliciosos. Se continuar nesse pique, vou curtir bastante os 24!

 
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