sexta-feira, 23 de abril de 2010

Uspianos de farmácia e a homofobia

Acabo de ler, no G1 que um jornal dos estudantes de farmácia da USP pediram para que seus "compatriotas" jogassem merda em gays a fim de "vingar" a reputação da faculdade e, de quebra, ganhar um convite para uma festa brega.

A notícia me incomoda porque bate bem perto de casa; afinal, eu fui estudante de universidade pública, dessas de ir em festas bregas e tal, e ainda por cima da parte de comunicação e artes, onde como a música-tema do instituto já dizia, todo mundo é "bichinha e sapata".

Primeiro de tudo, me espanta a completa contramão em que esse jornaleco está inserido. Sim, porque a Universidade é - ou foi, ou deveria ser - um centro de discussões e ideias, de onde deveriam sair as pessoas que questionam e abolem preconceitos e o arcaísmo. O local acadêmico deveria ser a primeira frente a combater a homofobia, a abraçar as diferenças, a contribuir para a integração. Afinal, é o papel da universidade fazer as pessoas pensarem, pesquisarem e, consequentemente, mudarem paradigmas. Seja a teoria da relatividade ou a percepção que a sociedade tem dos homo/bi/transexuais.

(E o que eu esperaria de uma festa de universidade - principalmente sabendo que gays e lésbicas são tão presentes nessa esfera - seria, no mínimo, de deixar a coisa rolar, deixar o povo à vontade. Mesmo porque, com tanta bagunça, putaria e coisas ilegais que rolam nessas festas, né, quem são eles pra se ofenderem com dois caras se beijando? )

Em segundo lugar, me espanta como no meio acadêmico de hoje, as pessoas apenas se mobilizam para o fútil, o execrável e o estúpido. Lembro-me de quando estudava e o campus todo era convocado para assembleias estudantis para discutir o repasse de verba para as universidades públicas. Estamos falando de milhares de alunos aqui: apenas 30, 40 apareciam. Contudo, um dia, apareceu um flyer na frente do restaurante estudantil, e vimos esse flyer distribuído pela universidade inteira. O conteúdo: um convite de uma "facção" racista para reuniões para discutir o problema de negros e nordestinos no campus. Ah, sim, para isso eles tinham tempo e dinheiro para confeccionar e imprimir flyers. Assim como esses cretinos da USP tem tempo para imprimir um jornal convidando os colegas a jogarem merda nos gays (e, pelo que vi da foto do G1, falar sobre a Adriana Bombom também.) E isso vindo de pessoas que, futuramente, irão trabalhar em laboratórios que farão os SEUS remédios e os remédios de seus familiares. Sim, esses completos imbecis estão trabalhando na área da saúde, minha gente. Feliz 2012.

Lembro-me agora como o pessoal do diretório acadêmico se preocupava com o sucateamento e a privatização do ensino público brasileiro. É por isso que nunca fui de tomar parte com esse tipo de discussão. Eu me preocupo mais é com a imbecilização e estupiditização da academia brasileira.

Alguém, faça alguma coisa? Please?

E um último adendo: o brilhante autor do jornal me escreve, ainda por cima, "lanÇe-merdas". Corram para as colinas.

4 comentários:

Pimentinha_sz disse...

È isso ai Brasil...
Olha só como estamos andado pra frente...[ironic]


Barbaridade Meu DEUS! qual é o mau em sermos diferente?

VERGONHA DE SER BRASILEIRA...

Anônimo disse...

Não sei qual a maior vergonha...

A homofobia que impera em nossa sociedade; A imbecilidade de nossos academicos; a futilidade disto tudo...

E pensar que essas são as maiores cabeças pensantes do nosso pais (USP)...

bjks

P. June disse...

Fiquei triste e chocada com a notícia (mais triste que chocada). Minha irmã estuda Farmácia na USP. Ela vai pra essa tal de festa brega todos os anos. Mas por outro lado, minha irmã não é exatamente a pessoa mais gay-friendly do mundo. Assim como meus pais, ela sabe que eu sou lésbica, sabe que eu namoro a C., mas mantém uma distância enorme da minha vida, ignorando minha orientação sexual, do mesmo modo que meus pais...como se a C. não existisse na minha vida. Quando eu tentei apresentá-la para minha irmã, ela deu as costas e foi embora.

Pensando bem, essa notícia até que faz sentido.

O mundo está cheio de pessoas burras e eu tenho cada vez menos paciência pra elas. Tenho cada vez menos paciência pra ignorância e mediocridade. Tenho vontade de mandar todo mundo à merda.

Eu quero a identificação do autor desse texto e quero ver esse filho da puta, o editor do jornal e qualquer um mais que tenha consentido com essa publicação punido. Eu quero a divulgação dessa história, quero a difamação do nome dessa faculdadezinha filha da puta de merda. Quero que a USP seja advertida. Quero providências no âmbito administrativo.

Sabe o que eu quero? Eu quero a CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA. Eu quero que a homofobia tenha o status do racismo: CRIME IMPRESCRITÍVEL E INAFIANÇÁVEL. O que eu mais queria, mais do que tudo nesse mundo, era ver esse moleque atrás das grades. Quero que as pessoas aprendam na marra a respeitar as diferenças.

A cultura brasileira precisa mudar muito. Só o fato do escroto do Dourado ter ganhado o BBB mostra isso. A mídia poderia cumprir um papel importante nesse processo, mas não cumpre. Os meios de comunicação e a lei devem colaborar para a mudança de pensamento. Mas estamos longe ainda.

P. June disse...

E eu espero que cada um desses nove infelizes que participam desse jornaleco sejam pessoalmente intimados ao Distrito Policial para responder por injúria e incitação à violência. Apesar das penas não serem grande coisa, vale o susto. Esse tipo de atitude NECESSITA de punição. NECESSITA de uma mobilização da sociedade. NECESSITA de divulgação.

Seria ótimo se os próprios alunos da farma ou pelo menos dos demais cursos da usp boicotassem a festa brega agora. Mas não acho que eles se importem o suficiente.

E eu espero que essa porcaria de jornal seja cancelada.

Meu último comentário: segundo a reportagem, o Centro Acadêmico da Farmácia da USP teve a cara-de-pau de dizer que as diferenças são respeitadas, pois pensamentos distintos representam "crescimento pessoal" e "aperfeiçoamento da sociedade".

Promover a homofobia e incitar alunos a atirar merda em gays ajuda alguém a crescer e a aperfeiçoar a sociedade? Belo aperfeiçoamento esse! Bastante compatível com a idéia de não apoiar "atitudes homofóbicas, machistas, racistas ou que expressem qualquer outro tipo de preconceito".

 
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