quarta-feira, 15 de abril de 2009

Piece of my heart

Depois de algumas notícias, um post um pouco pessoal. Um desabafo, eu diria.

Eu tenho uma namorada. Uma linda, inteligente e fofa namorada, e estamos juntas pra mais de um ano. Como é muito comum com casais como nós, nem minha mãe nem os pais dela gostam muito da ideia (leia-se são completamente contra a situação).

Esses dias, alguns fatos que ocorreram - certos ataques ao nosso relacionamento - me fizeram meditar e tentar entender porque as pessoas são tão contra relacionamentos como o nosso. Principalmente como os pais. Corrijam-me se estou errada; afinal, não tenho filhos, mas não seria a razão principal para o sorriso de um pai ver seu filho feliz?

Um amigo meu, gay, me disse uma vez que não gostaria que o próprio filho fosse gay. "Porque eu sei como é difícil, e não quero que ele passe pelo que eu passei." Oras, passar por o quê? Pela batalha diária que travamos em ser o que quisemos ser? Por isso, todo mundo vai passar. Em maior ou menor grau. Você pode ser heterossexual, mas lutar para poder ser artista plástico em uma família que insiste que você seja médico. Logicamente, isso não passa nem perto do preconceito que sofremos em todas as esferas da sociedade, mas é um exemplo de barreira que alguém tem que atravessar. E todos nós temos que atravessar barreiras.

Eu digo que não espero que meu filho seja absolutamente nada. Eu vejo meus futuros rebentos como páginas em branco. Seja um artista plástico hetero, um advogado gay ou um policial bi, eu quero que ele seja aquilo que ele deseja, aquilo que ele se percebe ser. Sem interferência alguma do que quer que eu espero dele. Claro que um lado meu quer que meu filho compartilhe meu gosto por arte, cinema, literatura, música, mas o que posso fazer se ele quiser ser matemático? E pior, um matemático hetero? *risos*

Eu e a namorada compartilhamos uma certa pressão de nossos pais para que sejamos as garotas-modelo. É chata mas contornável no meu caso, massacrante e doentia no dela. E isso deixa sequelas gigantescas na gente - julgo que é por essa sequela que até hoje não consigo cogitar relevar para meu pai que gosto de outras meninas. Sentimo-nos culpadas por não sermos o que eles desejam que sejamos. Mas ora, somos o que somos. E não isso exatamente o que devemos ser?

Nossa civilização se ocupou de criar regras e categorias nas quais devemos nos encaixar. E por quê? Por que devemos ser essa ou aquela coisa? Por que devemos pensar mais em dinheiro que amor? Por que devemos seguir o padrão de casar-ter filhos-envelhecer juntos-morrer?

Essas regras não só eliminam as diferenças como nos impedem de ver aquilo que é mais rico no ser humano: a fluidez. A maneira como certa pessoa se sente atraída por homens, outra por mulheres, outra pelos dois. A maneira como aquela pessoa é mais comunicativa, e aquela, mais introspectiva. A beleza está em todas essas nuances. E por que não apreciá-las todas?

Mas é muito difícil para as pessoas se livrarem dos padrões. Eu mesma passei boa parte da minha vida tentando encaixar-se neles até perceber que não, não quero casar, não, não quero viver com um homem, não, não quero ser o que vocês esperam que eu seja.

Os acontecimentos recentes que citei no começo do post me empurram para o dia que terei que assumir tudo isso a meu pai, a figura emblemática em minha vida. Talvez esse dia será o dia em que me libertarei de vez da necessidade de ser alguém além de mim mesma. Mas isso é papo pra outro post. Enquanto isso, fico tentando entender porque não conseguimos ser felizes apenas ao ver o outro feliz, da maneira que ele é, de peito aberto.

6 comentários:

Duda disse...

Love is beautifl!

O título me lembrou uma das minhas ídolas: Janis!!!

Mas já estou convencida, se o amor é inexplivvel, o preconceito é
incompreensível!!!

Kisses!

Rafaela Luz... disse...

ehhh...oi...

bom....
é a primeira vez que leio posts do deu blog...e acabei por ler todos...amei o visual, a nuance das palavras, a intenção...
não tenho como divulgar como o Lesbofera, mas tenho como linkar...

quantoao assunto desse post tenho um pouco da minha percepção no meu blog tb, exposto de forma diferente mas exposto...

assumir só nao é mais trabalhoso do que assumir-se...

vou sempre acompanhar...

mui beej...

C. June disse...

Duda: o título foi uma referência a ela mesmo! Adoro a Janis e sua voz poderosíssima!

É bem verdade. O preconceito é totalmente incompreensível. E é irônico como todos concordam que o amor é inexplicável, mas quando nós, homossexuais, nos apaixonamos, temos que ficar nos explicando constantemente. Ai ai, mundo...

Rafaela: Ah, obrigada pela visita! Espero que volte mais vezes também... e não precisa divulgar não, só você ler já é o suficiente pra mim :)

Ótima frase a sua. É bem isso mesmo!

Beijos às duas!

P. June disse...

Post muito profundo, sweetie. A sociedade impõe regras, impõe padrões de comportamento ridículos e imbecis. As pessoas estão mais preocupadas em se encaixar do que em ser quem são, e têm medo de quem arrisca ser o que é. Tem medo do diferente.

Algumas pessoas são burras e ignorantes e não colocam a felicidade dos filhos em primeiro lugar, e sim o que os outros vão pensar. Eles querem que você seja feliz, desde que você seja do jeito que eles acham certo.

Sim, eu estou incluindo meus pais nisso.

Mas nós teremos nossos filhos e os criaremos de uma maneira diferente. Eles não vão ser o que nós queremos ou esperamos, mas sim o que tiverem que ser. E vamos amá-los do jeito que eles serão. Vamos virar nossa história do avesso.

Te amo demais!!!

Rafaela Luz... disse...

Não é esforço nenhum ler...

volto sim...

mui beijos e obrigada...

Duda disse...

Darling!
Sorry pelos erros, digitava no escuro e só agora percebi...
Ainda bem que entendeu, rs..

E eu simplesmente adoooooooro Janis Joplin, tenho até os vinis! rs

Beijos!

 
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